sábado, 18 de julho de 2009

Dean Keenhold


Hj, às 2:30 da manhã, em Washignton, faleceu Dean Weston Keenhold.
Conheci o Dean em 86 ou 87, não me lembro exatamente, em um curso de trompete promovido pelo Departamento Estadual de Cultura (ES). Na época, os trompetistas mais experientes ocuparam os horários com aulas individuais. Os novatos, Tonico e Pacova, dividiram o horário que restava.
Durante o curso, "os experientes" foram abandonando as aulas, Pacova logo desistiu também. Terminei o curso e propus que continuássemos as aulas. Ele topou, e todas as semanas eu tomava um ônibus e ia até a sua casa no Bairro República para as aulas de trompete. As aulas continuaram por alguns anos, até que ele voltou para os EUA.
Fisicamente, o Dean era alto e pesava algo em torno dos 140 kg. Como bom americano, branco e olhos azuis.
Comigo, o Dean sempre foi muito atencioso, paciente e me respeitava como um estudante sem muitos talentos, mas com muita dedicaçao. Não foram poucos os puxões de orelhas, mas na aula seguinte estava tudo resolvido... eu estudava muito.
Ele era um band-leader como poucos. "Apitava todas", depois de cinco horas de baile, mandava uma "lapa" de som impressionante. Improvisava maravilhosamente bem.
Nos estudos, não queria me ensinar improvisação, dizia que eu tinha que primeiro aprender a tocar certo para depois poder tocar "errado". Trabalhamos métodos e muita leitura.
Há poucos anos conversamos sobre os velhos tempos e ele confessou que em determinado momento, achou que eu nunca ia tocar trompete. Ainda bem que ele não desistiu!
"Hello, my precious friend and deserving student.
I believe I take pride in encouraging you not to give up music and to continue. After you had such a hard time keeping your Selmer Lightweight in tune and we both discovered that your instrument was your problem and that you have a beautiful and pure tone that any trumpeter would be proud of.
I have the biggest and fullest tone, however. Ahem!
Dean." 19/jan/2009
Foi ele, que em 89, me recomendou o curso "Metais: Performance e Criação", ministrado por um quinteto de metais da Paraíba, desconhecido para mim. O curso foi na Pro-Arte, no Rio de Janeiro, e lá conheci o Quinteto Brassil e o Nailson, meu professor nos últimos vinte anos.
Durante sua permanência nos EUA, sempre mantivemos contato. Ele ficava muito feliz com as minhas conquistas, tinha consciência da participação dele em todas elas.
Ao visitar Vitória, sempre ligava, ouvia meu quinteto, era aquele tio querido que todos nós temos.
Do Dean, fica em minha memória, as aulas, os ensaios, os bailes, os arranjos e o som do seu trompete. Em meu coração fica o MESTRE, em letras maiúsculas, aquele que me fez acreditar que seria possível tocar trompete, contrariando as primeiras impressões. Se eu um dia conseguir metade da sua competência como professor, meus alunos estarão bem encaminhados.
Tenho certeza, que onde o Dean estiver, a música está melhor.
MESTRE, você é o culpado por eu ser um trompetista. Obrigado.

Desde fevereiro ele escrevia para a Revista Vida Brasil. Nos seus artigos, fica evidente a paixão pelo nosso país. Para conferir, clique aqui.
Abaixo, o último e-mail enviado por ele, uma mostra do seu amor pelo Brasil e do carinho com seu aluno capixaba.
"Deus eh grande e eu estou totalmente bem sem surugia nem uma. Estou tao feliz para voce e sua nova posicao. Me envia todos os seus dados e assim posso cotinuar sabendo das suas conquistas.
Eu estou com muito orgulho de voce. Voce segiu as vontades do seu coracao em sua vida e eu, foi atraz o dinheiro para poder continuar com minhas vontades.
Alias, estou incompleto. Preciso voltar ao Brasil para completar o circo e seculo da minha vida antes de morrer (muitos anos pela frente).
Sabado passado fiz 62 anos de idade (22 anos com 40 anos de experiencias).
Um forte abraco e nessas alturas um bwijo tambem do seu sempre orgulhoso ex-professor.
Dr. "D""
16/abr/2009

Um comentário:

  1. Conheci o Dean em 1989, logo depois que eu cheguei em Vitória. Engraçado que eu conheci o Tonico no início daquele ano em um curso na Pro-arte do Rio. Foi um contato muito rápido.

    O Dean sempre me surpreendeu como músico e esta perda é muito grande para todos aqueles que o conhecem. Nos ultimos anos estava vindo a Vitória com um pouco mais de frequência e nós esperávamos que ele retomasse uma influência musical no Estado, que ele tivera em outros tempos. Acho que o Dean também tinha essa expectativa, pois me confidenciou que queria ajudar a formar grupos musicais.
    Mas com certeza Deus tem um propósito para cada um de nós e diante do que eu conheci do Dean, ele se encaixa no "rall" daqueles que "combateram um bom combate e guardaram a fé".
    Obrigado Dean.

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